“O método de Stutz” é um documentário lançado pela Netflix no final do ano de 2022 e produzido por Jonah Hill. Phil Stutz é um psiquiatra norte americano e Hill, sendo um ator com alguns problemas de depressão e autoimagem (como ele mesmo compartilha durante o filme), decide compartilhar as ferramentas que o ajudaram durante seu processo de melhora.
Durante o documentário fui anotando com entusiasmo os insights de Stutz e percebi o quanto eles na verdade não são ideias completamente novas, mas outra forma de apresentar o que já podemos encontrar pelas vertentes de meditação. Inclusive, Phil guia Jonah em diversas meditações.
Para acompanhar melhor essa reflexão você pode assistir o documentário primeiro ou apenas ler e absorver os aprendizados :)
Basicamente o processo de Phil é:
reconhecer o problema > utilizar uma ferramenta > mudar a perspectiva ou local de existência psicológica
e isso faz parte da força de evolução da vida (ou seja, ninguém consegue ficar estacionado no mesmo lugar por muito tempo).
Então vamos lá, como os conceitos se relacionam?
“A verdadeira certeza é aprender a conviver com a incerteza”
Phil compartilha que temos 3 aspectos da vida que todos os seres humanos compartilham e precisam aprendem a lidar: dor, incerteza e trabalho.
A dor é inevitável, a incerteza é uma constante e o trabalho (tanto interior e exterior) é o que precisamos fazer para avançar e sair do lugar.
A incerteza aqui nada mais é que a impermanência das coisas. O apego à certeza, estabilidade ou imagens mentais é o que gera sofrimento.
Uma ferramenta então seria trabalhar com meditações que reforçam a verdade da impermanência, além de uma meditação que Stutz ensina ao final do documentário para trabalhar a potência do desapego (em breve teremos uma versão dela no podcast).
Snapshot
Snapshot é o nome que Phil dá à busca (no domínio da ilusão) pela experiência/pessoa perfeita, uma imagem mental de desejo que criamos. O insight que o documentário traz é que essa fantasia não tem movimento, é estática, portanto não pode existir, já que a vida é movimento constante (a tal da impermanência que acabamos de mencionar). Alcançar essa fantasia não satisfaz as verdadeiras necessidades - uma das Grandes Verdades de Buda.
Aceitação radical
Phil também comenta que todo evento tem algo com o qual podemos aprender, algo que pode se transformar em significativo pela aceitação radical daquilo que é.
Outro ponto que o budismo considera gerador de sofrimento constante é a resistência à realidade, bem como a tentativa de modificar essa realidade para caber nos nossos desejos.
A ferramenta então é a própria aceitação. Buscar ver aquilo que é, tentar retirar os condicionamentos que colocamos de forma inerente aos acontecimentos como se eles automaticamente se relacionassem ao nosso eu (já viu essa meditação do podcast?). Assim podemos dizer: ok, e agora? O que posso fazer com isso? Como posso seguir?
Parte X
Esse é o nome que Phil dá para aquela voz dentro de nós que é negativa, crítica e julgadora. O fato é que ela existe e sempre vai existir. Geralmente são pensamentos limitantes, que nos dão a sensação de que não podemos fazer algo, por não termos capacidade, coragem. Resumindo: nosso medo.
A única forma de lidarmos com a Parte X é aprendermos a não nos identificarmos com ela, ou seja, passamos a enxergar esses pensamentos apenas como mais uma voz. Existem até algumas técnicas da psicologia que dizem para darmos um nome “tragicômico” (por exemplo: posso nomear minha voz que quer tudo perfetio e sobre controle de Comandante Gabi). Assim ao percebermos que ela está agindo novamente, podemos reconhecê-la, nomeá-la e o próprio nome já alivia um pouco da tendência de levar todos esses pensamentos a sério.
Com isso a meditação também pode nos ajudar, principalmente práticas que nos ajudam a observar os pensamentos (geralmente fazemos essas meditações em encontros ao vivo e em grupo por elas serem um pouco mais complexas, mas você pode explorar um pouco nesse episódio do podcast)
O Labirinto
O labirinto é uma situação dolorosa do passado, envolvendo outra pessoa, em que o Eu (ego) sente que precisa consertar e tenta realizar isso buscando justiça no presente. Na prática o que acontece é que a pessoa suspende/limita suas possibilidades de vida por permanecer fixada a essa situação de dor. Phil então traz que a sensação de equilíbrio/justiça advém do próprio processo de autodesenvolvimento.
Temos então 2 ferramentas: a primeira e mais óbvia é o exercício constante da presença, ou mindfulness.
A segunda, é a proposta de Phil: uma meditação de amor ativo (sentir amor e enviá-lo a essa outra pessoa, buscando unir-se a ela - em breve também terá sua versão no podcast), que nada mais é que uma fração da proposta do exercício de treinamento da compaixão (começar consigo > enviar para alguém de quem você gosta > para alguém neutro > para alguém com quem você tem dificuldades > para todos os seres).
No podcast do Projeto Presença você pode se aproximar dessa proposta por uma meditação de empatia e por uma meditação de conexão com o amor, além de meditações de compaixão (mais uma na lista de gravações a serem feitas pro podcast).
A nuvem negra e o fluxo de gratidão
A nuvem negra é justamente o que acontece quando deixamos a Parte X tomar conta de nós e ficamos fixados no que os pensamentos de medo e julgamento tem a nos dizer, o que a psicologia chama de estado depressivo.
A ferramenta que Phil propõe é o “fluxo de gratidão” e o exercício é simples: comece pensando em 3 ou 4 coisas pequenas pelas quais você pode agradecer. Escreva ou diga elas em voz alta. Depois continue nomeando outras coisas/pessoas pelas quais você pode agradecer mentalmente, seguindo o fluxo e se permitindo sentir a gratidão no corpo. Para finalizar, fique alguns minutos apenas com o sentimento.
A gratidão de fato nos coloca em um outro lugar de relacionamento com a vida e é muito comentada como algo essencial dentro do budismo, bem como a ideia de interdependência entre todas as coisas e seres. Você encontra esse exercício proposto pelo método Stutz na nossa meditação de apreciação (e pode complementar com a meditação de interdependência).
Ufa, muita coisa né? E garanto que ainda não trouxe tudo o que o documentário compartilha. Mas acho que já dá pra ter uma noção do quanto a meditação acaba se expandindo por diversas áreas da nossa vida de maneiras muito sutis, sempre com o objetivo de nos ajudar a passar pelos desafios da vida.
E para finalizar, fiquei com vontade de recomendar essa meditação:
Você assistiu esse documentário? Viu sentido nas relações? Encontrou outras e gostaria de compartilhar?